No exercício do oitavo mandato e depois de ter sido presidente da
Câmara Municipal de São Luís por três vezes consecutivas, de 1994 a
2000, o vereador Francisco Carvalho, presidente estadual do PSL, é
considerado uma das “raposas” da política maranhense. Seu colega de
parlamento, Francisco Chaguinhas (PSB) costuma dizer que ele é um dos
últimos alquimistas políticos do Estado.
Francisco Carvalho tem uma trajetória interessante no Legislativo
Ludovicense. Filho de José Mário de Araújo Carvalho, que foi deputado
estadual por quatro
legislaturas e depois vereador, herdou-lhe o espólio
político quando este faleceu em meados da década de 1970, por
influência do ex-governador Luiz Rocha e o ex-deputado José Bento
Nogueira Neves (ambos falecidos) e de outras lideranças do período.
Naquela época, dois parlamentares se destacavam com ações na zona
rural, área de difícil acesso. José Mário Carvalho e Evandro Bessa de
Lima, que foi presidente da Câmara Municipal. Após a morte do pai,
Carvalho passou a dominar a cena tanto na Zona Rural I como na Zona
Rural 2.
Sua serenidade o faz com que sempre seja chamado para buscar
alternativas para crises e é um exemplo para jovens vereadores. Sob a
presidência dele, em 1995, a Câmara de São Luis fez um grande movimento
para que a refinaria de petróleo fosse instalada em São Luís. Em 2009,
protagonizou um encontro de secretários estaduais e municipais, no
Cruzeiro de Santa Bárbara, em busca de recursos para serem aplicados na
infraestrutura daquela localidade. Convalescendo de uma cirurgia para
colocação de quatro stents, conversou rapidamente em casa sobre os mais
variados assuntos.
Se diz indignado quando ouve político falar que o povo estaria
revoltado como lento andamento da reforma política. Para ele, o povo
quer é melhoria da qualidade de vida e sequer se mobiliza sobre esse
assunto. Veja a íntegra da entrevista:
Nessa entrevista ao JORNAL DA CÂMARA, ele fala sobre esse e outros assuntos: Eis a íntegra da entrevista:
JORNAL DA CÂMARA – Como é ser vereador em São Luis?
FRANCISCO CARVALHO- É como se fôssemos autênticos
assistentes sociais. Além de irmos às bases, somos procurados na Câmara,
em nossas residências pelo eleitorado. Isso porque o vereador é a base
da pirâmide política. O deputado estadual se elege com votos do interior
e vem para São Luis, o senador e o deputado federal vão para Brasília,
enquanto nós estamos morando próximo ao eleitorado, que nos aciona por
conta de várias de suas necessidades. Mesmo assim, somos alvos de
pesadas críticas, mas só quem é vereador sabe o peso dessa
responsabilidade. Não é fácil não.
JORNAL DA CÂMARA – E qual a razão de continuar como representante popular na Câmara Municipal?
FRANCISCO CARVALHO- Cada ser
humano traça seu destino. No meu caso, por exemplo, sou aposentado como
auditor fiscal do Município e advogado. O problema é que herdei isso do
meu saudoso pai, José Mário de Araújo Carvalho, que representou o povo
tanto na Câmara como na Assembleia. Minha primeira eleição foi em 1988.
São muitos anos de lutas em defesa dos menos favorecidos. É cansativo?
É, mas há um componente interessante, a gente fica de alma lavada,
sabendo que está ajudando o próximo.
JORNAL DA CÂMARA – Como é essa história da Câmara Municipal com a refinaria durante o período em que o senhor foi presidente?
FRANCISCO CARVALHO– É uma história
interessante. Em 1987, a Petrobrás fez publicar um estudo, no qual
apontava São Luis como a capital com maior potencial técnico para a
instalar um projeto de tamanha magnitude, por conta de sua posição
geográfica, do Porto do Itaqui e da linha ferroviária.
Em 1995, conclamamos todas as forças políticas, independentemente de
linha ideológica ou partidária a somarmos forças em defesa do projeto e
fomos atendidos. Para que se tenha uma idéia, o então senador José
Eduardo Dutra do PT e que posteriormente foi presidente da Petrobrás,
veio a São Luis participar de um dos inúmeros movimentos que a Câmara
fez pela cidade.
JORNAL DA CÂMARA – Que movimentos foram esses?
FRANCISCO CARVALHO– Realizamos
audiências públicas na área do Itaqui/Bacanga, no Sacavém, e fizemos um
grande ato na Praça Deodoro. Depois, fomos a Brasília. Posso
contabilizar aqui os saudosos Raimundo Assub e Lia Varela e o então
vereadores, Pavão Filho, Tadeu Palácio, Helena Barros Helluy, José
Cosmo Ferraz, Rubem Brito, José Joaquim e outros vereadores daquela
legislatura.
Mantivemos contatos com o presidente do Congresso na época, o senador José Sarney e o então dirigente da Petrobrás, Joel Rennó.
JORNAL DA CÂMARA – E aí, o que resultou desses encontros?
FRANCISCO CARVALHO- Houve uma
frustração. Ceará e Pernambuco, também disputava a instalação da
refinaria. As bancadas federais deles estavam em peso, enquanto dos
deputados federais, bem poucos se interessavam pela história. Ficamos
com uma certa inveja dos cearenses e dos pernambucanos, ao observarmos,
que lá, apesar da disputa entre situação e oposição, como em qualquer
Estado, os adversários estavam juntos lutando pelo mesmo objetivo. Aí o
Joel Rennó, nos disse, não sei se com ironia, que estávamos brigando por
algo que não era tão rentável como as reservas de gás natural
existentes principalmente na região dos Lençóis.
JORNAL DA CÂMARA – Que lição foi tirada desse episódio?
FRANCISCO CARVALHO– A lição que ficou é de que
senadores e deputados federais devem ficar mais atentos às
reivindicações do povo. Eles devem entender que política é a arte da
convergência em busca de benefícios para a população. A disputa entre
situação e oposição é salutar e democrática, mas existem momentos em que
essas divergências devem ser colocadas de lado em busca de objetivos
comuns. O ex-governador e atualmente deputado federal, José Reinaldo
Tavares, por exemplo, comunga da mesma idéia. Ele sempre diz que deve
existir unidade entre as correntes adversárias, quando se busca o mesmo
objetivo.
JORNAL DA CÂMARA – Mas depois veio a história da refinaria com o Lula a Dilma e o governo do Estado e deu no que deu...
FRANCISCO CARVALHO– Sim, e a
Câmara esteve presente. Você deve está lembrado que a
Câmara organizou
uma audiência pública, que foi realizada no auditório da FAMA, com a
participação do então ministro das Minas e Energia, o senador Edison
Lobão, do então presidente da Petrobrás, o Sérgio Gabirelli, outros
técnicos do governo federal e a classe empresarial. Agora, não se pode
culpar o governo do Estado pelo fracasso da empreitada. Quem anunciou a
refinaria Premium de Bacabeira foi o governo federal, dono da agenda de
seus empreendimentos. Isso nos deixou mais frustrados ainda, já que
imaginávamos que o projeto fosse sair do papel, gerar emprego, gerar
renda, gerar desenvolvimento.
JORNAL DA CÂMARA – Vamos falar sobre a zona rural, onde o senhor faz política. Como andam as coisas por lá?
FRANCISCO CARVALHO
zona rural continua carente.
Para que se tenha uma exata dimensão do problema, não existe até hoje,
uma escola de ensino médio por lá. Isso já foi alvo de várias
reivindicações nossa junto ao governo do Estado. Penso que a Estiva e o
Santo Bárbara merecem escola desse nível, uma vez que os estudantes
quando encerram o ensino fundamental, enfrentam problemas para dar
continuidade aos estudos, uma vez que quem mora na zona rural é carente e
escola próxima de casa é de fundamental importância.
Eu era garoto e já acompanhava meu pai em suas incursões à zona
rural. Naquele período, as estradas eram carroçais e havia muita
dificuldade para deslocamento. Houve melhorias e hoje muita gente faz
política na área.
Em 2009, propus e consegui um grande encontro entre
secretários e técnicos dos governos estadual e municipal, no Cruzeiro de
Santa Bárbara. Esse encontro resultou, posteriormente na alocação de
recursos da ordem de R$ 43 milhões, que deveriam ser aplicados na
infraestrutura daquela área, mas isso não foi feito. Estou mantendo
contatos com o secretário executivo do Ministério das Cidades, o
ex-secretário de Fazenda do Maranhão, o Trinchão, para que os trabalhos
sejam realizados, através da liberação da verba. Mas a zona rural
continua carente e precisa de uma injeção de forças para modificação
desse panorama.
As dificuldades da zona rural são inúmeras. Ali se encontram
moradores distanciados da educação, da saúde, com uma péssima
infraestrutura e é ali que se encontra o maior contingente de pessoas
desempregadas, que vivem o dia a dia na agricultura de subsistência. E
isso nos sensibiliza muito.
JORNAL DA CÂMARA – O senhor é o presidente estadual e
vice estadual do PSL. Como avalia o andamento da reforma política no
Congresso, que estabelece cláusula de barreira, fim de coligações
proporcionais e outras medidas que vão na contramão das pequenas siglas?
FRANCISCO CARVALHO – Fico extremamente indignado
quando ouço parlamentares de grandes
siglas abordarem essa questão.
Geralmente são parlamentares eleitos montados em máquinas
administrativas, desconhecidos do povo. Na realidade, o povo jamais foi
às ruas bradar por reforma política. O povo quer, na realidade é melhor
qualidade de vida, quer saúde, segurança, melhores salários e educação
de qualidade.
Não há, sequer, um pequeno partido envolvido nessa torrente de
corrupção que vem abalando o Brasil. Só as grandes siglas. Isso é uma
manobra dos grandes partidos para que façam desaparecer as agremiações
partidárias de menor porte, para que continuem dando as cartas no
cenário político nacional, apesar da corrupção.