principais delatores da Lava-Jato, mas ele ainda não vai desfrutar de
liberdade total. Por determinação do juiz Sérgio Moro, o doleiro passará
a cumprir regime aberto domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica
nos períodos de recolhimento, durante dois anos, até 17 de março de
2019. Em dias úteis, Youssef não poderá sair de casa das 20h às 6h e,
durante fins de semana e feriados, em nenhum momento do dia e da noite.
Em sua decisão, Moro afirma que o regime aberto costuma ser cumprido
em casas do albergado, mas que, no caso de Youssef, é preciso considerar
questões de segurança. Por isso, a determinação de recolhimento
domiciliar.
“Para garantir o cumprimento da determinação judicial, imperativa a
tornozeleira eletrônica. Não é ela sanção, então não há qualquer motivo
de reclamação contra a continuidade de seu uso pelo condenado”, escreveu
Moro no despacho.
O advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, afirmou que vai
recorrer do uso da tornozeleira eletrônica, já que o regime aberto comum
não prevê o uso de monitoramento eletrônico.
O doleiro também terá de apresentar relatórios semestrais de suas
atividades e só poderá deixar a cidade de residência ou viajar para o
exterior com autorização da Justiça.
O Ministério Público Federal havia proposto um período ainda mais
longo de regime aberto domiciliar, de quatro anos e seis meses, e
prestação de serviços comunitários por oito horas semanais. O juiz
considerou que há problemas de segurança na prestação de serviços
comunitários e, por isso, não aplicou a medida. Alberto Yousseff foi
preso na primeira fase da Lava-Jato em março de 2014.
Pena de 122 anos
Youssef foi condenado a 122 anos e dois meses de prisão em nove ações
na Lava – Jato. Ele foi preso em 17 de março de 2014, quando a primeira
fase da Lava – Jato foi deflagrada, num hotel em São Luís, no Maranhão.
Momentos antes, havia entregado R$ 1,4 milhão em propina da empreiteira
UTC a um emissário de João Abreu, secretário da Casa Civil de Roseana
Sarney.
Youssef é personagem chave na Lava-Jato. Despontou como o principal
dos quatro doleiros alvos da operação que levou ao esquema de corrupção
na Petrobras. Em 2013, havia pago R$ 250 mil por uma Range Rover Evoque,
faturada em nome do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Pelas mãos do doleiro passavam as propinas repassadas ao PP, que
recebia valores da diretoria de Abastecimento comandada por Costa. O
esquema incluía várias empresas de fachada, como a construtora Rigidez e
a MO Consultoria. Ao depor, Youssef contou que outras áreas da estatal
tinham também seus operadores, como Fernando Soares, o Baiano, operador
do PMDB que atuava na área internacional, e João Vaccari Neto, do
ex-tesoureiro do PT, na diretoria de Serviços. Até agora, apenas o
esquema atrelado ao PMDB não foi totalmente elucidado.
Num de seus primeiros depoimentos à Justiça, Youssef afirmou que a
posse de Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras
foi precedida de pressão política, com parlamentares trancando a pauta
do Congresso por 90 dias.
Youssef nasceu em Londrina, no Norte do Paraná. Fez carreira como
contrabandista de produtos trazidos do Paraguai e, mais tarde, se tornou
doleiro. Flagrado no caso Banestado, que envolveu remessas de mais de
US$ 130 bilhões ao exterior, fechou acordo de delação premiada e ajudou a
identificar os dono do dinheiro. Na Lava-Jato, fez o mesmo ajudando a
decifrar a divisão da propina espalhada por todos os negócios da
Petrobras.
Quando o doleiro anunciou o acordo, o advogado dele, Antonio
Figueiredo Basto, afirmou que a delação seria ” um fato histórico” e
ajudaria a “desvendar um dos maiores escândalos do país”, atingindo
também os políticos que estavam por trás da corrupção.