A operação da Polícia Federal que atingiu, nessa segunda-feira (26/2), o ex-governador da Bahia Jaques Wagner impôs mais dificuldades para o PT ter candidato próprio ao Palácio do Planalto. Cotado como possível opção petista na eleição presidencial caso Luiz Inácio Lula da Silva seja mesmo enquadrado na Lei da Ficha Limpa e fique impedido de disputar, Wagner foi indiciado. Ele é apontado em inquérito como destinatário de R$ 82 milhões, em propinas e caixa 2, desviados da obra de reconstrução do estádio da Fonte Nova, em Salvador.
A ação da PF, que chegou a pedir a prisão temporária do ex-governador — não acolhida pela Justiça — e fez busca e apreensão no apartamento dele, deu fôlego novo para o discurso de vitimização do PT. A cúpula petista classificou a Operação Cartão Vermelho como mais um episódio de “perseguição política” ao partido. Nome de maior destaque da legenda no Nordeste — principal reduto eleitoral do partido — Wagner, para alguns petistas, passou a ser considerado “carta fora do baralho” na disputa pela Presidência.
Diante de um revés atrás do outro, a cúpula do PT ainda não sabe o caminho a seguir. Com o aval de Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad iniciou um movimento para construir a unidade da centro-esquerda na eleição. Coordenador do programa de governo do petista, Haddad jantou recentemente com o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes.
O discurso oficial é sobre o fato de a aliança ter apenas o objetivo de montar projetos de desenvolvimento para o país, mas, na prática, o que uma ala do PT começa a discutir é a viabilidade de uma frente de centro-esquerda sem candidato próprio do partido. Essa ideia, porém, nem de longe conta com a maioria do PT.
Haddad foi criticado por se reunir com Ciro, na casa do ex-deputado Gabriel Chalita (PDT). Em conversas reservadas, dirigentes do PT dizem que o ex-prefeito age para ser vice do pedetista.
As articulações do ex-prefeito, no entanto, têm sido chanceladas pelo próprio Lula. Em conversas reservadas, amigos do ex-presidente avaliam o grande risco de ele ser preso. Não querem, no entanto, que o candidato seja de outro partido. Muito menos que seja o Ciro, considerado um “falastrão”.
Estranhamento
Wagner também vinculou a operação da PF às eleições. “É no mínimo de se estranhar. Quando a gente chega no ano eleitoral, efetivamente eu sou citado como Plano B, acontece o mesmo que ocorreu com o Fernando Haddad, também tido como Plano B e também foi aberto inquérito contra ele (Haddad foi indiciado por caixa 2 na campanha à Prefeitura de São Paulo em 2012)”, disse.
O ex-governador baiano já resistia à ideia de substituir Lula na chapa, pois sempre almejou concorrer ao Senado. Nos bastidores, Wagner chegou a dizer que não poderia perder de jeito nenhum essa eleição. Teme ficar sem cargo e sem foro privilegiado.
A candidatura de Lula será inscrita no dia 15 de agosto, mesmo se ele estiver preso, diz o comando do PT. Trata-se de uma estratégia para fazer a defesa política do ex-presidente e do partido. Segundo avaliação na sigla, se Lula for preso não terá chance de reverter o quadro para concorrer. É por isso que o Plano B continua sendo tão importante.
Não há acordo, no entanto, sobre o que fazer e a desorientação é geral. Haddad não tem apoio da cúpula para ser o “herdeiro” de Lula, mas o partido pode ser obrigado a bancar a candidatura dele ou a apoiar um nome de fora, mesmo a contragosto.
“Estrategicamente não seria bom para o PT abrir mão de candidatura presidencial própria. Certamente, o modus operandidas eleições de 2014, os escândalos de corrupção e o processo de impeachment serão temas a serem retomados no debate eleitoral em 2018 pelos adversários do partido”, disse o cientista político e professor da FGV-SP, Marco Antonio Carvalho Teixeira.
Para o historiador Lincoln Secco, professor da Universidade de São Paulo (USP), a ação contra Wagner não enfraquece o PT no Nordeste, visto que o atual governador da Bahia, Rui Costa, sucessor de Wagner, é quem comanda a máquina estadual e Lula tem capital político próprio na região. “Wagner era mesmo um nome pronto para substituir Lula”, avaliou o historiador.