O presidente do Comitê Tóquio 2020, Yoshiro Mori, anunciou
na manhã desta sexta-feira, na capital japonesa, sua renúncia ao cargo. A
decisão foi tomada após o dirigente sofrer inúmeras críticas ao fazer
comentários considerados machistas e sexistas sobre a presença feminina nas
reuniões da entidade.
Assumindo a responsabilidade por suas declarações
preconceituosas, Mori, de 83 anos, se desculpou e fez o anúncio de sua saída
durante a reunião semanal realizada com os membros do conselho executivo na
sede do Comitê, em Tóquio.
Meus comentários inadequados causaram grandes problemas. Eu
sinto muito. Tenho tentado apoiar as mulheres tanto quanto possível e tenho
tentado apoiar as mulheres mais do que os homens para que possam falar. Houve
momentos em que as pessoas não levantavam as mãos e não falavam, e eu saía do
meu caminho para dizer: “Por favor, fale”. E sinto que as mulheres
têm falado muito.
A imprensa japonesa já antecipara que Yoshiro Mori deixaria
a função depois da repercussão negativa, tanto no Japão quanto em outras partes
do mundo, causada por suas declarações. Em encontro com outros funcionários do
Comitê, o então presidente reclamara da presença das mulheres nos eventos que,
segundo ele, se tornavam exageradamente arrastados e cansativos.
A renúncia de Mori surge como mais um contratempo na
organização dos Jogos postergados para julho após serem adiados no ano passado
devido à pandemia do coronavírus. Ainda não foi anunciado quem assumirá a
presidência do Comitê. Entre os nomes cogitados está o da ministra das
Olimpíadas e ex- patinadora Seiko Hashimoto, de 56 anos.
Em nota oficial, Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico
Internacional, agradeceu o período de Mori à frente de Tóquio 2020, mas disse
entender os motivos para a renúncia. Ao mesmo tempo, afirmou que vai trabalhar
ao lado do sucessor.
– O COI respeita totalmente a decisão do presidente Mori de
renunciar e entende suas razões para fazê-lo. Ao mesmo tempo, gostaríamos de
agradecê-lo por sua notável contribuição para a organização dos adiados Jogos
Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio 2020 ao longo dos últimos anos. Entre suas
muitas realizações, o presidente Mori ajudou a tornar Tóquio a cidade olímpica
mais bem preparada de todos os tempos. O COI continuará trabalhando lado a lado
com seu sucessor para realizar os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 em 2021.
Presidente do Comitê Paraolímpico Internacional, o
brasileiro Andrew Parsons disse esperar que a reação às falas de Mori pudesse
ser um marco de diversidade e inclusão no esporte.
Presidente do Comitê Paraolímpico Internacional, o
brasileiro Andrew Parsons disse esperar que a reação às falas de Mori pudesse
ser um marco de diversidade e inclusão no esporte.
– Espero sinceramente que a reação nacional e internacional
nos últimos sete dias possa ser aproveitada para que a sociedade dê maior
ênfase à diversidade e inclusão, não apenas em termos de representação de
gênero, mas também de raça, sexualidade e pessoas com deficiência.
Governadora de Tóquio, Yuriko Koike evitou se posicionar
sobre quem deveria suceder Mori na presidência do Comitê. Afirmou, porém, que o
novo dirigente deve incorporar os ideais olímpicos de inclusão, além de ter boa
aceitação no cenário mundial.
– Diversidade e harmonia – isso é algo que a pessoa no topo
precisa entender incorporar e transmitir. Eu acho que isso é uma coisa
essencial – afirmou.