colocada em xeque. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) admite que os
mecanismos para evitar sabotagens na urna eletrônica “nem sempre
‘garantidamente’ impedem uma fraude”, mas defende que o sistema é
aperfeiçoado à medida que é exposto a riscos e
vulnerabilidades.Especialistas consultados pelo UOL afirmam que o
sistema eletrônico de votação utilizado no país não é totalmente
confiável e não permite auditoria.“O que a Justiça Eleitoral tem buscado
fazer é tornar eventuais fraudes impingidas ao processo eleitoral
inviáveis, impondo, ao eventual atacante, uma sucessão muito numerosa de
barreiras, tornando o esforço de se atacar muito superior ao eventual
benefício da fraude. Tais barreiras nem sempre ‘garantidamente’ impedem
uma fraude, porém são concebidas de tal forma que o invasor ou atacante,
em sua tentativa, com grande margem de certeza, deixe suas marcas,
permitindo posterior identificação do autor, sua localização e o
instante da ação do ataque”, afirma Giuseppe Janino, secretário de
Tecnologia de Informação do TSE, em entrevista por e-mail.
O funcionário do TSE também reconhece que “é incorreto afirmar
categoricamente que um sistema seja totalmente seguro” e “igualmente
incorreto afirmar que ele seja totalmente inseguro”. Segundo Janino, o
sistema eleitoral é dinâmico e é aprimorado quando exposto a riscos.
O TSE realizou testes públicos para analisar a confiabilidade da urna
eletrônica apenas duas vezes, em 1999 e 2012. Uma equipe da UnB
(Universidade de Brasília) descobriu uma lacuna no sistema de segurança
no último exame. Embora a tecnologia evolua com o tempo, o tribunal não
permitiu novos testes públicos e não respondeu ao UOL por que não
promoveu novas provas.
Segurança da urna eletrônica
- Pesquisadores da UnB identificam vulnerabilidade no equipamentoOs
votos são armazenados em urna eletrônica e embaralhados de forma
aleatória. Durante o teste os pesquisadores conseguiram colocar em ordem
os votos registrados na urna. Se os votos podem ser reordenados, é
possível identificar quem votou em determinado candidato considerando os
horários que os eleitores votaram em determinada seção eleitoral. A
lacuna na segurança compromete o sigilo do voto.
Fonte: UnB (Universidade de Brasília)
“É importante também deixar claro que há um compromisso entre
segurança e custo. Como exemplo, se me desloco de carro da minha casa
para o trabalho e ganho um salário de R$ 1.000 por mês, não faria
sentido eu gastar mais de R$ 1.000 por mês para, por exemplo, comprar um
carro blindado ou contratar uma escolta. Em suma, as barreiras devem
ser implantadas de acordo com riscos e vulnerabilidades reais e não
baseado em suposições infundadas”, completou Janino.
Questionado sobre o histórico de suspeitas de fraude, o TSE
reconheceu que algumas ocorrências foram identificadas. “Há alguns casos
de suspeição de fraudes, invariavelmente levantadas por candidatos
derrotados no pleito. Todas as denúncias formalizadas foram devidamente
apuradas e consideradas improcedentes pelas instituições competentes que
realizam as perícias”, respondeu Janino sobre casos suspeitos.
O tribunal, no entanto, não respondeu quantos casos são suspeitos e
de que forma se procedeu a investigação que julgou os casos
improcedentes.
Ainda sobre os mecanismos de segurança, o TSE afirma o sistema pode
ser fiscalizado por agentes do Ministério Público ou por partidos. “A
versão oficial dos softwares de cada eleição é assinada digitalmente,
inclusive o software das urnas eletrônicas, que dispõem de vários
mecanismos de verificação”, disse Janino.
O UOL perguntou a um especialista em segurança digital sobre quais
garantias de confiança uma assinatura digital traria ao processo
eleitoral. Para o engenheiro Amilcar Brunazo Filho, supervisor do Fórum
do Voto Eletrônico, a técnica não impossibilita ataques de pessoas.
“O Bruce Schneier, um dos cinco mais conhecidos e premiados
criptógrafos e autor dos livros mais vendidos sobre segurança em TI, em
seu livro ‘Segurança.com’ disse uma frase significativa: ‘Se você
acredita que a tecnologia pode resolver seus problemas de segurança,
então você não conhece os problemas e nem a tecnologia.’ Ele escreveu
isso para explicar que concluiu que segurança de sistemas tem a ver com
as pessoas que operam o sistema e não com as tecnologias adotadas”,
defendeu Brunazo Filho.
O engenheiro também cita o Ph.D. Ronald Rivest, que segundo ele, é
outro entre os cinco principais criptógrafos no mundo. “Ele é o inventor
da técnica de assinatura digital RSA que o TSE usa, e nega que sua
técnica de assinatura digital seja suficiente para garantir, por si só, a
integridade do software embarcado em sistemas eleitorais”, disse
Brunazo.
Uma urna de uma seção da periferia do município de Caxias (MA)
apresentou problemas, segundo relatos de eleitores em 2012. Um dos
indícios é que um dos candidatos que votava na seção da urna não teve
nenhum voto computado, nem o dele mesmo. Outros eleitores alegaram que
quando digitavam o número do candidato não aparecia a foto dele. O caso
foi investigado pela Justiça Eleitoral. Com informações do Uol.com