Cidade do Vaticano, 4 mar (EFE).- Com uma invocação ao Espírito Santo, os cardeais se reuniram nesta segunda-feira pela primeira vez no atual período de Sé Vacante (sem pontífice) para preparar o conclave que elegerá o sucessor de Bento XVI, cuja data será marcada quando todos os eleitores estiverem presentes.
Quatro dias depois do começo da Sé Vacante, 142 dos 207 cardeais que formam o Colégio Cardinalício participaram no Vaticano da primeira congregação preparatória do conclave, que transcorreu em um ambiente ‘cordial, sereno e construtivo’, segundo o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
Dos 142 presentes, 103 eram cardeais eleitores, ou seja, têm menos de 80 anos e poderão – conforme as regras da igreja – entrar na Capela Sistina para escolher o pontífice.
Os eleitores são 117 no total, dos quais dois já anunciaram que não vão participar do conclave, por isso faltam chegar 12, afirmou Lombardi. Os dois que renunciaram são o indonésio Julius Darmaatmadja, por doença, e o britânico Keith O’Brien ex-arcebispo de Edimburgo acusado de ‘comportamento inadequado’ para com outros religiosos na década de 80.
O cardeal decano, Angelo Sodano, já disse que somente quando todos os eleitores estiverem presentes será definida a data do segundo conclave do terceiro milênio.
Neste primeiro dia, os cardeais presentes juraram perante um crucifixo e com uma mão sobre a Bíblia manter o segredo sobre o que será debatido nas reuniões e as medidas que serão adotadas.
A reunião começou às 9h30 locais (5h30 de Brasília) presidida por Sodano e o cardeal camerlengo, Tarcisio Bertone e com a reza do ‘Veni Sancte Spiritus’, em latim, com o qual invocaram a ajuda do Espírito Santo.
Os cardeais se sentaram conforme seu papel nas três ordens do colégio cardinalício (bispos, presbíteros e diáconos), e nos primeiros minutos se dedicaram a informações técnicas sobre o uso dos microfones, entre outros aspectos. Os idiomas da reunião são espanhol, inglês, italiano, francês e alemão.
Já na primeira congregação discursaram 13 cardeais, e na segunda, prevista para a tarde, será a vez de o Predicador da Casa Pontifícia, o franciscano Raniero Cantalamessa, pronunciar a primeira meditação das duas previstas.
Na primeira reunião, os cardeais leram o rito ‘Ordo rituum conclavis’ e aprovaram enviar uma mensagem ao papa emérito Bento XVI.
Nestas reuniões são tratados os assuntos da igreja prévios ao conclave, marcada sua data de início e também servem para que os cardeais se conheçam melhor, comentem a situação da igreja e projetem o perfil do próximo papa.
Se no conclave de 2005 desde o primeiro momento se destacaram os cardeais Joseph Ratzinger e Carlo Maria Martini, no próximo, que previsivelmente começará em 11 de março, não se veem figuras destacáveis, e segundo os observadores vaticanos há uma forte fragmentação no Colégio Cardinalício.
Essa fragmentação também se vê no fato de inclusive grupos fortes, como são tradicionalmente os italianos, os americanos e os latino-americanos estarem divididos, sem terem por enquanto um candidato a quem apoiar.
O ‘Vatileaks’ – como ficou conhecido o escândalo da publicação de documentos privados de Bento XVI e da Santa Sé, que revelam intrigas no pequeno estado – foi muito lembrado pela imprensa neste primeiro dia de reuniões e foi pergunta ‘obrigatória’ dos jornalistas aos cardeais quando estes chegavam ao Vaticano.
Um deles, o espanhol Carlos Amigo Vallejo, declarou que o assunto terá um peso ‘irrelevante’ no conclave. Já o brasileiro Raymundo Damasceno disse à imprensa italiana que certamente esse fator ‘pesará’ na hora de escolher o papa.
O dossiê do ‘Vatileaks’ preparado por três cardeais octogenários – e que portanto não poderão entrar no conclave – só é conhecido por eles mesmos e Bento XVI.
Perante a possibilidade de que esses três cardeais – o espanhol Julián Herranz, o eslovaco Josezf Tomko e o italiano Salvatore De Giorgi – informem aos demais, Lombardi afirmou que ‘saberão em que medida poderão e deverão dar informações’ a quem o pedir.