Escutas telefônicas divulgadas nesta segunda-feira na Argentina revelaram um novo escândalo no futebol sul-americano, novamente com o Boca Juniors como protagonista. Conversas entre o presidente do clube mais popular do país, Daniel Angelici, com dirigentes da federação argentina, ocorridas em janeiro de 2015, evidenciaram a influência do Boca na arbitragem. O caso não é inédito: há dois anos, escutas telefônicas revelaram indícios de interferência da arbitragem na eliminação do Corinthians diante do Boca, na Copa Libertadores de 2013 – além de ajuda a clubes argentinos desde os tempos do Santos de Pelé.
Na noite desta segunda, o programa No Todo Pasa, da emissora TyC Sports, revelou o conteúdo das conversas. Na primeira, o presidente Angelici pede a Fernando Mitjans, presidente do Tribunal de Disciplina da federação argentina até hoje, que dê um jeito de anular a suspensão de dois atletas, Leandro Marin e Cristian Erbes, em uma partida decisiva contra o Vélez, que valeria vaga na Libertadores de 2015.
“Estamos sem zagueiros, sem laterais”, exclama Angelici, pedindo que a suspensão dos atletas seja reduzida ou cumprida em amistosos e não na partida decisiva. “Fique tranquilo”, diz o presidente do tribunal. “Vão jogar contra o Vélez”, diz, em trecho da amigável conversa.
A conversa mais estarrecedora, porém, se deu entre Angelici e Luís Segura, então presidente da federação. “Luís, trate de falar diretamente com esse menino Delfino (árbitro da partida) para quarta-feira, para que ele trate de se equivocar o menos possível. Diga a ele que há muito em jogo para o Boca”, pede Angelici, sem qualquer tipo de constrangimento.
“Fique tranquilo que me ocuparei disso. Para esse jogo contra o Vélez, tenha certeza de que sou o torcedor número 1 do Boca”, responde Segura. Com Erbes e Marin, em campo, o Boca venceu o Vélez no jogo único que definiria o último classificado argentino na Libertadores, por 1 a 0. O Vélez teve dois atletas expulsos e o Boca um, em jogo sem interferências escandalosas do juiz Germán Delfino.
O Boca acabaria eliminado daquela Libertadores em uma decisão dos tribunais: o jogo de volta das oitavas de final diante do River Plate nem sequer terminou, depois que um torcedor do Boca atirou gás de pimenta em direção a jogadores do maior rival. A Conmebol optou por excluir o Boca e dar a classificação ao River – que vencia o agregado por 1 a 0 e seria o campeão daquela edição.
Caso Amarilla – Em 2015, foram divulgados pela emissora América outras gravações comprometedoras envolvendo o Boca Juniors. Em maio de 2013, Julio Grondona (ex-vice-presidente da Fifa e presidente da federação argentina entre 1979 e 2014, o ano de sua morte) comentou com Abel Gnecco (diretor da Escola de Árbitros da AFA e representante da AFA no Comitê de Arbitragem da Conmebol) sobre a desastrosa atuação do árbitro paraguaio Carlos Amarilla na eliminação do Corinthians diante do Boca, na Libertadores.
“Saiu bem, ninguém queria esse louco, mas, no fim, foi o reforço mais importante do Boca”, disse Grondona. Gnecco, então, afirma que o paraguaio Carlos Alarcón, então chefe da arbitragem da Conmebol, teria exigido a presença de Amarilla nesta partida. “Assim foi, colocou (o Amarilla) e deu tudo certo, porque tem de ser assim…”, diz Gnecco. Naquela partida, Amarilla não deu dois pênaltis claros e invalidou dois gols do Corinthians. Grondona e Gnecco ainda discutiram sobre qual árbitro deveria apitar o jogo seguinte do Boca, diante do Newell’s Old Boys – a equipe de Rosário